terça-feira, 10 de julho de 2012

"O livro que só queria ser lido" - José Jorge Letria

         Lembram-se daquele livro que vocês liam sem parar, que adoravam ver e rever aquelas palavras, aquelas ilustrações e que nunca se esqueciam dele na prateleira? Pois... onde está ele agora? Na prateleira esquecido, numa caixa...? O que sentirá ele neste momento por estar esquecido, algures em vossa casa?

        Esta é a história de um livro que viveu momentos de felicidade quando todos na casa o liam, reliam e partilhavam a sua história com outras pessoas. Mas, agora, está esquecido na prateleira da biblioteca da casa, entre os dicionários e os papeis imporantes como contas e cartas das finanças. Tudo o que este livro deseja é voltar a ser lido e tudo faz para que reparem nele.

       Antes de começar a ler a história, pedi aos alunos que trouxessem para a escola um livro e um brinquedo que eles já não peguem há algum tempo. Assim aconteceu e eles apresentaram os seus objetos, explicando por que não pegam mais neles, sendo que a maioria referiu que era por esquecimento e porque outros livros e brinquedos novos os substituíram.

       Após a apresentação dos mesmos, foi-lhes pedido que escrevessem um diálogo entre o livro e o seu brinquedo, no qual eles manifestavam os seus sentimentos e falavam da sua atual condição. Eis alguns dos textos escritos pelos alunos.

O encontro do livro e do brinquedo
        Um dia o meu livro e brinquedo encontraram-se:
        -Olá! – disse o  livro.
        -Olá!
        -Eu fui comprado no Natal, a avó da Mariana deu-me, mas ela depois deixou de brincar comigo! – disse o brinquedo.
        -Eu sinto-me abandonado, mas ao mesmo tempo também me sinto muito contente! – disse o livro.
        -Porquê? – perguntou-lhe.
        -Porque ela foi arranjando mais livros. – disse ele.
        -Eu sinto-me como tu! – disse o brinquedo.
        Um dia, a Mariana pegou outra vez nos dois e eles ficaram muito contentes, outra vez.
Mariana Ricardo

A Boneca e o livro
        Um dia numa prateleira linda cheia de brinquedos estava uma Boneca de Trapos e um livro chamado “ O Peixe Contador de histórias ”.
       A Boneca de Trapos era real como as personagens do livro. Então, um dia a Boneca entrou dentro do livro e encontrou sua paixão, o Pedrito.
       - Olá Boneca de Trapos.
       -Olá Pedrito.
       -Sentes-te bem? – perguntou Pedrito curioso.
       -Não. Sabes, a Ana Catarina já não brinca comigo há muito tempo e eu sinto-me triste por dentro e por fora.
       -Coitadinha de ti. Olha, vem aí o Mestre Hildo, pode ser que ele te faça rir.
       -Olá Boneca de Trapos. – disse o Mestre Hildo.
       -Olá Mestre Hildo.
      -Olá Mestre Hildo. Mestre Hildo, a Boneca de Trapos sente-se triste porque a Ana Catarina não brinca com ela há muito tempo.
       - A sério? Então anda comigo e com o Pedrito andar de barco. Vais sentir-te melhor.
       -Oh, está bem!
       Passado uma hora e eles voltaram.
       -Gostaste Boneca de Trapos?
       -Sim, gostei muito, obrigada, já me sinto muito feliz.
       -A sério? Que bom! Bem tenho de me ir embora, adeus! – disse o Mestre Hildo.
       - Muito obriga Pedrito.
       -De nada.
      Abraçaram-se e depois a Boneca de Trapos confessou que gostava dele e o Pedrito também confessou que gostava dela e beijaram-se.
       A Boneca de Trapos ficou tão feliz que decidiu ir vistar o Pedrito todos os dias.
Ana Carvalho

A boneca Kika e o livro de contos
        Um dia o meu livro de contos encontrou- se com a minha boneca Kika, e disse:
        -Olá boneca Kika.
        -Olá livro de contos.
        -Sabes, eu sinto-me tão abandonado - disse o livro de contos.
        -E eu sinto-me tão sozinha e também abandonada. Nunca pensei que a minha dona me fosse pôr para aqui e me esquecesse.
        -Pois nem eu. Já não sou lido há 2 anos. Eu tenho tantas histórias fixes de contos de fadas de que ela gosta, como por exemplo: “A Repolho”, “A princesa e a ervilha”, e a “Cinderela”- disse o livro.
        -E eu? Era a boneca preferida dela e há 5 anos que já não brinca comigo. Eu adorava que ela voltasse a brincar comigo.
        -Eu adorava que ela voltasse a ler-me, mas estamos para aqui arrumados- queixou- se o livro.
        -Olha, a Flávia vai pegar em nós de certeza. E também vai voltar a brincar connosco.
        -Pois tens razão- disse a boneca.
        -Fixe! Fixe!- disseram os dois todos felizes.
Flávia Leitão

O livro e o brinquedo
        Olá, eu sou um ioió, eu agora vou contar a minha vida. Eu nasci com um primo meu, fui comprado por uma menina chamada Patrícia. Ela brincava comigo mas a dada altura arrumou-me numa prateleira com os seus livros. Mas valeu a pena, ali eu arranjei um amigo, o livro. Um dia eu perguntei-lhe:
       - Olá como te chamas?
       -Livro.
       - E tu?
       - Ioió. Eu agora estou arrumado e ninguém brinca comigo!
       -A mim é igual, eu fui comprado, sinto-me mesmo muito mal e triste.
       - Eu agora não consigo estar enjoado porque ninguém me rola.
       -Eu já não tenho cócegas, porque ninguém me toca.
       -Olha a Patrícia, vai pegar em nós.
       -Fixe.
       E meteu-nos na mochila.
Patrícia Oliveira


Os meus brinquedos
         Os meus livros e brinquedos para mim são divertidos, mas um dia eu esqueci-me deles e senti, que eles ficaram tristes. Eles falaram entre eles e disseram:
         - Quem me dera que o meu dono pegasse em mim e me rolasse.- disse a bola azul.
         - Pois eu também queria que o meu dono pegasse em  mim.- disse o livro. -Já sei, quando o meu dono passar no quarto eu caio, da prateleira e ele vai reparar logo em mim.
         - Boa ideia, e eu vou fazer o mesmo!- disse a bola
         E assim foi, eles caíram ao mesmo tempo da prateleira, e o dono deles reparou e pegou neles, mas apenas para voltar a pôr na prateleira. Eles ficaram tristes e disseram:
        - O nosso plano não resultou.- disse o livro.
        - Pois foi.- disse a bola.
        - Vamos tentar outra vez! – disse o livro.
        - Está bem. – disse a bola.
        E assim foi. Eles caíram da prateleira da prateleira e desta vez o dono vi-os, pegou neles e levou-os para a escola porque tinha um trabalho para fazer sobre eles.  
        E desde então o dono brincou sempre com eles, e viveram felizes para sempre.
 Ricardo Machado

        Depois de lerem os seus textos aos colegas, iniciamos a leitura da história. O livro triste por estar esquecido encontra uma máquina de escrever, também ela esquecida, pois foi substituída pelo computador. Ambos começam a partilhar as suas histórias e vivências. A da altura o livro mostra a sua revolta dizendo:

      - Pois fica sabendo, minha cara amiga,  (...) há coisas que se podem esquecer e abandonar e outras não. (...) Têm todo o direito de deitar fora um fogão velho ou um esquentador já sem uso, mas não é justo que abandonem objetos como nós, porque temos vida própria e porque partilhámos emoções e segredos.

       Mas a máquina de escrever, mais ponderada diz:

       - Então tu achas que um fogão que ajudou as pessoas a comerem os alimentos em condições  e um esquentador que tão importante terá sido para a sua higiene não têm direito a fazer as mesmas exigências que nós fazemos?

        Perante estas afirmações, os alunos refletiram sobre estas duas opiniões e no final deram a sua, dizendo com qual dos dois concordavam.


        Depois das suas reflexões, pedi que eles, juntamente com os pais e familiares, pesquisassem e, se possível, trouxessem para a escola, objetos que cairam em desuso e já não são utilizados hoje em dia. Com a recolha feita, fizemos uma pequena exposição desses objetos.


        A dada altura o livro e a máquina são separados, para grande tristeza do livro, que, para além de ninguém o ler, fica sozinho. Compadecido da sua tristeza, o computador tenta consolá-lo. Nesta fase da história, pedi aos alunos que imaginassem como terminaria a história. Eis alguns dos resultados.

Um dia depois, o computador disse ao livro:
            - Já sei!
            - O quê? – disse ele.
- Uma mudança de visual!
- Boa ideia!
- Vamos lá!
Então, ele experimentou cem maneiras diferentes. O visual número cento e um é que ficou bem: a capa muito colorida com flores, arco-íris, etc.
- Devíamos de ter experimentado este primeiro! – disse o livro, muito cansado..
- Pois…
A Mariana achou o livro interessante, leu-o e adorou a história que tinha lá dentro.
Ele ficou tão contente, mas tão contente que foi a correr contar ao computador.
Mariana Ricardo

        O livro ouvindo o computador continuou a cair. A filha da tia Rosário foi à estante e encontrou o livro lá caído, pegou nele e disse:
         - Parece-me um livro interessante.
         O livro ficou com um sorriso do tamanho do mundo.
         A filha que se chamava Margarida abriu o livro e começou a ler com muita atenção.
         Foi direta ter com a tia Rosário e disse:
         - Mãe! Mãe!
         - Diz filha.
         - Olha o livro que eu encontrei.
         - Mas esse livro é tão antigo!
         - Pois, mas é fixe.
         - Ok! Tem boa leitura.
         - Obrigado.
        E aí o livro foi cheio de alegria de novo apara a estante contar ao computador.
Patrícia Oliveira

        Eu acho eu o livro depois foi comprado pelo mesmo amigo do irmão da Mariana e depois encontraram-se os dois.
         Mas o colecionador pegou no livro e leu-o depois viu que era de aventuras e começou a lê-lo e na mesma máquina fez a mesma história fazendo muitas réplicas do livro até que se venderam os livros todos e fizeram muito dinheiro e o original todas as noites ia ter como a máquina e contava-lhe as histórias porque tinha que passar nas impressões todos os dias e ficou famoso.
Fábio Jesus

       Poderia acontecer que o livro caísse várias e várias noites ate que uma senhora o apanhou e começou a lê-lo depois ela escreveu o livro todo novamente e telefonou para a editora
        - Está, Porto Editora o que deseja?
        - Eu quero que seja a editora de um livro que eu voltei a escrever
        - Nós passe as informações por facebook que nos decidimos e lhe telefonamos
        Depois do lançamento foi um sucesso e o livro original foi lido várias vezes pelos donos da casa até ao resto da sua vida. Mas os outros livros iguais a ele foram vendidos em grande escala também.
Samuel Leite

      Após a leitura partilhada dos seus finais, lemos o final da história, que foi verdadeiramente surpreendente.
       No final, cada aluno escreveu uma frase sobre o que aprendeu com esta história:

          Que não podemos tomar decisões precipitadas.
Samuel Leite   

Todos os livros são importantes, mesmo que sejam feios por fora, podem conter os maiores tesouros que nem nós pensamos.
Joana Pinto

Que às vezes os livros também têm sentimentos e outras coisas também.
Fábio Jesus

É que nós devemos ler sempre os livros para conhecermos melhor as palavras, e tirar conclusões
Filipa Mota

Que todos nós temos um segredo e uma importância.
Que todos os objetos têm todos a mesma importância. E que nós só podemos criticar os livros depois de os lermos.
Flávia Leitão

         Os alunos gostaram muito desta história e terminamos o nosso trabalho sobre a obra, fazendo o paralelo com a nossa vida, o nosso dia a dia, refletindo que devemos valorizar toda a gente, mesmo as pessoas idosas, pois ainda têm o seu valor e são muito imporantes para nós, pois a máquina disse:

        Nós (...) somos como as pessoas. Temos anos de infância e de juventude. Depois vem a idade adulta e, a seguir, o envelhecimento. E porque envelhecemos, acabamos um dia por ser esquecidos.

        Esta obra tem uma história muito bonita, assim como as suas ilustrações. Para além disso, ensina-nos o valor que devemos dar às pessoas e aos livros, pois uma boa leitura ajuda-nos sempre a melhorar cada vez mais.

       Tenham boas leituras.
  Ana Arada