sábado, 24 de novembro de 2012

Porque devem os pais pôr os filhos a chorar? / Why sould the parents make their children cry?

 
        A ideia de fazer tudo para que os filhos sejam felizes, evitando que chorem, está ultrapassada.
A teoria de disciplinar sem que a criança chore está desatualizada, diz Gordon Neufeld, psicólogo clínico canadiano que esteve em Portugal no final da semana.
        “As crianças precisam da tristeza, da tragédia para crescerem. Precisam de ter as suas lágrimas”, defende.
        Nos primeiros meses e anos de vida, o “não” dito pelos pais ajuda a disciplinar, em vez de estragar a criança. “Estamos a perder isso na nossa sociedade, não admira que as crianças estejam estragadas com mimos. Afinal, elas são sempre as vencedoras”, continua o investigador que esteve em Lisboa a convite da empresa BeFamily, do Fórum Europeu das Mulheres, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e da Associação Portuguesa de Imprensa.
        Na conferência sob o lema “Vínculos Fortes, Filhos Felizes”, Neufeld defende que só se atinge o bem-estar através da educação e que esta deve estar a cargo das famílias e não do Estado.
        E para garantir o bem-estar de qualquer ser humano ou sociedade é necessário preencher seis necessidades.
         A primeira é o “aprender a crescer” e para isso há que chorar, é preciso que a criança seja confrontada, que viva conflitos, de maneira a amadurecer, a tornar-se resiliente, a saber viver em sociedade.
       A segunda necessidade é a de a criança criar vínculos profundos com os adultos, estabelecer relações fortes. Como é que se faz? “Ganhando o coração dos filhos. É preciso amarmos e eles amarem-nos. Temos de ter o seu coração, mas perdemos essa noção”, lamenta o especialista que conta que, quando lhe entram na consulta pais preocupados com o comportamento violento dos filhos, a primeira pergunta que faz é: “Tem o coração do seu filho?”, uma questão que poucos compreendem, confidencia. E dá um exemplo: Qual é a principal preocupação dos pais quanto à escola? Não é saber qual a formação do professor ou se este é competente. O que os pais querem saber é se a criança gosta do docente e vice-versa. “E esta relação permite prever o sucesso académico da criança”, sublinha Neufeld, reforçando a importância de “estabelecer ligações”.
       E esta ligação deve ser contínua – a terceira necessidade –, de maneira a evitar problemas. Neufeld recorda que o maior medo das crianças é o da separação. Quando estão longe dos pais, as crianças começam a ficar ansiosas e esse sentimento pode crescer com elas, daí a permanente procura de contacto, por exemplo, entre os adolescentes com as mensagens enviadas por telemóvel ou nas redes sociais, muitas vezes, ligando-se a pessoas que nem conhecem, alerta o especialista.
       O canadiano recomenda que os pais estabeleçam pontes com os seus filhos. Quando a hora da separação se aproxima, há que assegurar que o reencontro vai acontecer. Antes de sair da escola, dizer “até logo”; à hora de deitar, prometer “vou sonhar contigo”. Mas a separação não é só física, há palavras que separam como “tu és a minha morte” ou “tu és a minha vergonha”. Mesmo quando há problemas graves para resolver, a frase “não te preocupes, serei sempre teu pai” ajuda a lembrar que a relação entre pai e filho é mais importante do que o problema. Hold on to your kids é o nome do livro que escreveu e onde defende esta teoria.
        A importância de brincar
       A quarta necessidade a ter em conta para garantir o bem-estar dos filhos é a necessidade de descansar. Cabe aos adultos providenciar o descanso e este passa por os pais serem pessoas seguras e que assegurem a relação com os filhos.
      As crianças precisam que os pais assumam a responsabilidade da relação, que mantenham e alimentem a relação, de modo a que elas possam descansar e, nesse período, desenvolver outras competências. Uma criança que está ansiosa pela atenção dos pais não está atenta na escola, por exemplo.
      Brincar é a quinta necessidade a suprir.
      Não há mamífero que não brinque e é nesse contexto que se desenvolve, aponta Neufeld. E brincar não é estar à frente de uma consola ou de um computador; é “movimentar-se livremente num espaço limitado”, não é algo que se aprenda ou que se ensine. E, neste ponto, Neufeld critica o facto de as crianças irem cada vez mais cedo para a escola, o que não promove o desenvolvimento da brincadeira. “Os ecrãs estão a sufocar a brincadeira e as crianças não têm tempo suficiente para brincarem”, nota o psicólogo clínico que, nas últimas semanas, fez um périplo por vários países europeus, tendo sido ouvido no Parlamento Europeu, em Bruxelas sobre “qualidade na infância”.
        Por fim, a sexta necessidade é a de ter capacidade de sentir as emoções, de ter um “coração sensível”. “Estamos tão focados em questões de comportamento, de aprendizagem, de educação; em definir o que são traumas; que nos esquecemos do que são os sentimentos. As crianças estão a perder os sentimentos quando dizem ‘não quero saber’, ‘isso não me interessa’, estão a perder os seus corações sensíveis”, diz Neufeld.
 
       Em resumo, é necessário que os pais criem uma forte relação emocional com os filhos, de maneira a que estes sejam saudáveis. Os pais são os primeiros e são insubstituíveis na educação dos filhos e são eles que devem ser responsáveis pelo seu desenvolvimento integral e felicidade. Se assim for, estarão também a contribuir para o bem-estar da sociedade.

 Por Bárbara Wong, no jornal Público em 20/11/2012
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      The idea of doing everything to ensure that the children are happy, avoiding that they cry, is outdated.
      The theory of discipline without which the child cry is out of date, says Gordon Neufeld, Canadian clinical psychologist who was in Portugal at the end of the week.
"Children need the sadness of the tragedy to grow. Need their tears", argues.
       In the first months and years of life, "not" said by parents helps discipline, rather than spoil the child. "We are losing this in our society, it is no wonder that kids are spoiled rotten. After all, they are always the winners", continues the researcher who came to Lisbon at the invitation of the company BeFamily, of the European Forum of women, of the Portuguese Association of large families and the Portuguese Press Association.
       At the Conference under the motto "Strong Ties, Kids happy", Neufeld says that only reaches the welfare through education and that this should be the responsibility of families and not of the State.
      And to ensure the welfare of any human being or society are required to complete six needs.
       The first is the "learn to grow" and for this we must cry, children must be confronted, that conflict alive in order to mature, becoming resilient, namely living in society.
      The second need is that of the child create deep links with adults, establish strong links. How do you do? "Winning the hearts of the children. It takes love and they love us back. We need to have their heart, but we lost that notion", laments the expert who tells us that when he falls into query parents worried about the violent behavior of the children, the first question is: "Do you have the heart of your son?", a question that few understand, confides. And gives an example: what is the main concern of parents about the school? Not knowing which teacher training or if this is competent. What parents want to know is if the child likes the teacher and vice versa. "And this relationship makes it possible to predict the academic success of children," stresses Neufeld, reinforcing the importance of "establishing connection".
      And this connection must be continuous – the third need-in order to avoid problems. Neufeld recalls that the biggest fear of children is that of separation. When they are away from their parents, the children start to get anxious and that feeling can grow with them, hence the demand for permanent contact, for example, between adolescents with messages sent by mobile phone or on social networks, often turn to people who do not even know, alert the specialist.
      The Canadian recommends that parents establish bridges with their children. When the hour of separation approaches, we must ensure that the reunion will happen. Before leaving the school, say "Goodbye"; at bedtime, promise "I'll dream of you". But the separation is not just physical, there are words that separate as "you are my death" or "you are my shame". Even when there is serious problems to solve, the phrase "don't worry, I will always be your father" helps you remember that the relationship between father and son is more important than the problem. Hold on to your kids is the name of the book they wrote and which defends this theory.
      The importance of play
     The fourth need to be taken into account is to ensure the well-being of children is the need to rest. It is up to adults to provide the rest and this passes through parents being insured persons and to ensure that the relationship with the children.
      Children need parents to assume the responsibility, to maintain and nurture the relationship, so that they can rest and, during this period, developing other skills. A child who is eager for the attention of parents aren't attentive at school, for example.
       Play is the fifth need to meet.
      There is no mammal that do not play and it is in this context that he develops, said Neufeld. And play is not to be in front of a console or a computer; is "move freely within a limited space", is not something you learn or teach. And, at this point, Neufeld criticizes the fact that the kids go earlier and earlier for the school, which does not promote the development of the game. "The screens are stifling the joke and children do not have enough time to play", note the clinical psychologist who, in recent weeks, made a tour through various European countries, having been hearing at the European Parliament in Brussels on "quality in childhood".
       Finally, the sixth is the need to have ability to feel emotions, of having a "sensitive heart". "We're so focused on learning, behavior issues, education; in defining what are traumas; that we forget what are the feelings. Children are losing the feelings when they say 'no wonder', 'that doesn't interest me', are losing their hearts susceptible", says Neufeld.
       Concluding, it is necessary that parents create a strong emotional relationship with their children, so that they are healthy. Parents are the first and are irreplaceable in educating the children and they are the ones who should be responsible for their integral development and happiness. If so, will also contribute to the well-being of society.
 
By Bárbara Wong, in Público newspapper em 20/11/2012

 

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